Elas erraram e estão respondendo por isto. A maioria praticou algum crime para complementar a renda familiar. Algumas podem ter matado. Outras, encarceradas por lutar por direitos indígenas ou receber dinheiro de venda de drogas do marido. Os casos são muitos, mas a realidade é uma só. Ela, bem trazida pelo livro da Nana Queiroz, Presos que Menstruam, é que a lei promete, mas não dá. E se dá, infelizmente não é o suficiente. Não falo de regalias, mas do básico de que necessitamos para manter a dignidade e a vontade de sermos um ser humano melhor. Aliás, se não há assistência adequada do Estado, no geral, aos seus cidadãos, imaginemos então para aqueles que cometem algum delito. Mas não quero entrar nessa discussão, que rende.
Uma imagem viralizou em setembro: um absorvente interno feito com miolo de pão por mulheres de alguma unidade prisional do Brasil. Mês passado uma detenta deu à luz dentro da solitária no Rio de Janeiro. Como Nana diz em um trecho do livro, “É fácil esquecer que mulheres são mulheres sob a desculpa de que todos os criminosos devem ser tratados de maneira idêntica. Mas a igualdade é desigual quando se esquecem as diferenças. É pelas gestantes, os bebês nascidos no chão das cadeias e as lésbicas que não podem receber visitas de suas esposas e filhos que temos que lembrar que alguns desses presos, sim, menstruam.”
Pois bem, quando me deparei com o evento do Coletivo Feminista Maria Maria, núcleo da Marcha Mundial das Mulheres em Juiz de Fora, eu nem sabia o que era um Coletivo, mas a certeza que tinha era de que tentaria ajudar como eu pudesse na campanha de arrecadação dos absorventes, já acontecendo em várias outras cidades do país. De pronto, a professora Cíntia já entrou com um projeto no Vianna para sermos um ponto de arrecadação. Também conseguimos arrecadar no restaurante Sobradinho, no Park Idiomas, e de mão em mão. Tivemos várias dificuldades, entraves por falta de informação, mas também muita ajuda, luta e apoio por parte de muitas pessoas. Sabendo que a carência abrangia outros itens de higiene pessoal, também passamos a arrecadar sabonetes, pastas de dente, shampoo.
Hoje, dia da entrega, vejo que conseguimos, com sucesso, atingir o que tínhamos em mente, que era tentar trazer um sopro, uma ajuda, mesmo que limitada, ao sufoco que essas mulheres passam. Aos que ajudaram de alguma forma, nosso muito obrigada. Vocês arrasaram e renovaram a esperança de que a gente pode sim construir um país mais humano e solidário. Foram doados 155 kits com sabonete e absorventes – um para cada detenta da Ariosvaldo -, 1056 unidades de absorvente para estoque, dada a variação do ciclo de cada mulher, 98 tubos de pasta de dente e bastante shampoo, que algumas poucas Marias colocaram em saquinhos plásticos durante um dia inteiro montando os kits. Tudo isso foi entregue às próprias detentas. Elas disseram que também há falta de prestobarba (modelo de 2 lâminas), roupas íntimas, condicionador, sabonete e antitranspirante. Do total, 42 mulheres não recebem visita, então têm mais carência, sendo destinados prioritariamente para elas os itens que não estavam nos kits!
Não quero me lembrar das caras feias que vi quando falava da campanha e as alegações de que quem está preso não deve ter direito a nada. Vou me lembrar sim da quantidade de gente que se mobilizou e me explicou que com boa vontade e união dá pra fazer muita coisa boa. Ah, e agora sei o que é um Coletivo. E sei também que o Maria Maria é amor!!
Por Stella Whitaker
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